domingo, 4 de maio de 2008

Maio 68 continuado

Em 1968, em Portugal, havia pelo menos duas revistas de actualidade e informação que podiam ter dado notícia dos acontecimentos de França, em Maio de 1968: a Flama, então dirigida por responsáveis ligados ao Patriarcado da Igreja e também o Século Ilustrado, dirigido por Francisco Mata. E ainda a revista Vida Mundial, dirigida por Francisco Eugénio Martins.

Aquelas duas, com formato e conteúdo similares à francesa Paris Match ou à americana Life e Look, não deram a importância fotográficamente devida, ao assunto, porque as revoltas estudantis, em modo de notícia eram, tabu, nesse Portugal dos sessenta, com Censura instituida como controlo da divulgação pública, de notícias que pudessem abalar a ordem e tranquilidade públicas, erigidas em valores supremos da ditadura salazarista.


Não obstante, o corte da censura não era total e quem sabia ler, percebia a importância do fenómeno. Além disso, em Portugal, havia revistas estrangeiras à venda, como por exemplo a Paris Match, com fotos de capa e chamadas de atenção evidente.


A Vida Mundial, em 13.12.1968, com uma capa dedicada aos Direitos do Homem, por ocasião do vigésimo aniversário da respectiva Declaração da ONU, escrevia na secção Semana Internacional, “ Em França, registam-se incidentes em várias cidades. Na Sorbonne, o reitor apela junto de estudantes e professores em favor da serenidade, temendo perder o domínio da situação. Decorre agitada uma digressão de Jacques Sauvageot pelas universidades de província.” E ainda: “ A Europa continua foco de lutas sindicais ou estudantis. Na Itália, as negociações políticas para a constituição do governo entram em crise, perante a intensidade da luta social. Para muitos observadores, a Itália está no limiar de uma crise tão grave como a de Maio em França, desde que os estudantes e os operários jovens consigam quebrar a prudência das centrais sindicais.”




Esta linguagem cifradamente explícita, ficava recolhida em noticiários informativos, sem relevo especial e sem fotos a valerem as outras palavras que faltavam.

Em finais de 1968, porém, a editora d. Quixote, publicava na sua colecção, ainda com uma dezena de volumes, e intitulada Cadernos d.quixote, dedicada a temas de política internacional, uma recolha de textos publicados nas revistas francesas, L´Express, Le Nouvel Observateur, L´événement e Le Monde Diplomatique, contando os aspectos mais importantes dos acontecimentos de Maio, com discurso directo de intervenientes, nas entrevistas que deram na altura.

O volume da d. Quixote, foi publicado em Novembro 1968 e intitulava-se “A revolta de Maio em
França”.























A revista Vida Mundial, no entanto, passados meses, dedicava alguma da atenção das suas páginas, a figuras directamente relacionadas com os acontecimentos de Maio de 1968.
Em 11.4.1969, publicava uma extensa entrevista com André Malraux, o ministro degaullista, que enfrentou a crise de Maio, sob o ponto de vista cultural. Entrevista à alemã, Der Spiegel.
No número de 13.2.1970, uma entrevista com Sartre, à inglesa New Left Review.























Apesar destes artigos em revistas de divulgação ampla, torna-se duvidoso que o regime aprovasse uma revista ou mesmo um jornal com uma foto deste género, publicada na capa da Paris Match, da semana dos acontecimentos de Maio, em Paris.
Em Portugal, apesar de ser Primavera, no caso, marcelista, ainda não se podiam cheirar todas as flores e muito menos as "do mal".