A efeméride data de 1975, instituída pela UNESCO, e o violinista Menuhin em particular, e celebra a importância da música em geral. Sobrepõe-se a outra efeméride, esta a celebrar em 22 de Novembro, com séculos e séculos de tradição: o dia da padroeira dos músicos, e da música por antonomásia, que a Igreja católica venera como Santa Cecília.
Cecília, foi uma romana do tempo do paganismo. Convertida ao cristianismo nascente na Roma antiga, foi martirizada por não renegar essa Fé.
O seu corpo foi sepultado numa cripta, de uma catacumba, conhecida actualmente como de S. Calisto, um dos papas sepultados nesse lugar, precisamente na cripta dos Papas . As catacumbas eram o lugar autorizado para os cristãos enterrarem os seus mortos e foi aproveitado pelos mesmos, para se reunirem em segredo, por causa das perseguições das autoridades romanas, até ao século de Constantino. Até ao ano 312, data da conversão ao cristianismo, daquele que até então adorava o deus Sol, foram dezenas e dezenas de milhar, calculando-se em 200 a 300 mil corpos, aqueles cristãos clandestinos que aí foram sepultados.
As catacumbas de S. Calisto, encontram-se no seguimento de uma meia dúzia de quilómetros, pela Via Appia antiga, a partir do Colosseo, no centro de Roma. A visita ao lugar, guiada por conhecedores ( estive lá com um padre espanhol, de grande sentido de humor e conhecimento específico), é uma experiência inesquecível, porque aí se encontra a essência da Fé, ao longo dos séculos, e perceptível no lugar com quase dois mil anos. É algo inefável e que torna a viagem uma caminhada mística por entre galerias e túneis, dezenas de metros debaixo do solo, escavadas com as mãos e os poucos instrumentos que se podiam esconder de olhares curiosos e hostis. Ao longo dos túneis, em que apenas consegue passar uma pessoa pela outra, podem ver-se os símbolos primitivos do cristianismo nascente, trazidos do Oriente médio: o peixe e a cruz sobrepostos; o cordeiro e pão e a imagem, bizantina avant la lettre, do Cristo Pantocrator.
O percurso nas galerias é uma experiência única no mundo. Cristão ou pagão.
Numa das criptas dessas galerias, encontra-se o lugar onde esteve sepultado o corpo de Cecília, romana de boas famílias e que se tornou santa da Igreja cristã, pelo martírio. Aí ficou desde a data da sua morte, entre o final do século II e início do III, até ao ano 821, quando foi trasladada para outro lugar de Roma, em Trastevere. No lugar primitivo, repousa agora uma estátua, representando a posição em que o corpo foi encontrado e a inscrição respectiva. Tudo respira uma Fé, incompreensível para um ateu, mas de uma força incomparável em quem acredita numa Essência superior a nós mesmos.
A sua particular atenção à música, levou os artistas primitivos a representá-la com a lira simbólica.
Nos tempos que correm, esta tradição secular, precisa de ser avivada para que o laicismo rompante, se remire mais uma vez, no espelho do nada que lhe devolve o vazio.
Postal retocado na escrita sintáctica e acrescentado, em 4.10.2007.
2 comentários:
Mais uma pequena preciosidade.
Olá José :
Fascinante !
Um beijinho.
( Um bj Zazie )
Maria
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