quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O republicanismo dialético

Não pode passar sem referência este pequeno texto de um dos maiores portugueses de sempre: Fernando Pessoa.
O texto é de iconoclastia contra o politicamente correcto que configura a existência de uma República, como o estádio último do desenvolvimento humano. O verdadeiro Fim da História.

Para certos indivíduos que execram a monarquia como execram as crenças religiosas; ou alimentam sonhos serôdios de materialismo dialético requentado na república laica, este texto é uma pequena graça.
De graça e tirado da caverna do Dragão:

«A República Velha* nada alterou das tradições desonrosas da Monarquia. Mudou apenas a maneira de cometer os erros; os erros continuaram sendo os mesmos. Em vez de um regimen católico, um regimen anticatólico, isto é, um regimen que logo arregimentava como inimigos os católicos. Em vez de uma República portuguesa, de um regimen nacional, uma república francesa em Portugal. E assim como a Monarquia Constitucional havia sido um sistema inglês (ou anglo-francês) sobreposto à realidade da Pátria Portuguesa, a República Velha foi um sistema francês sobreposto à mesma realidade pátria. No que respeita aos erros de administração - a incompetência, a imoralidade, o caciquismo - ficámos na mesma, mudando apenas os homens que faziam asneiras, que praticavam roubos e que escamoteavam "eleições". De sorte que a República Velha era a Monarquia sem Rei. Por isso é justo dizer que o 8 de Dezembro foi a queda da Segunda Monarquis.
Como podiam deixar de ser assim? Os homens do Partido Republicano tinham a mesma hereditariedade nacional, tinham vivido no mesmo meio que os da Monarquia; porque milagre teriam uma mentalidade diferente? Se Portugal tivesse regiões diferentes, nitidamente diferentes, se a Revolução de 5 de Outubro tivesse trazido para o poder homens de uma região diferente daquela de onde soessem provir os homens da Monarquia, então haveria homens diferentes no poder. Mas eram os mesmos políticos profissionais, os mesmos advogados da mesma Coimbra, os mesmos copistas da França - como podiam ter mentalidade diferente?»
- Fernando Pessoa, "Da República"

5 comentários:

Fernando Martins disse...

Sugeria que passasse pelo Blog De Rerum Natura (um dos Blog científicos mais lidos em Portugal...) e respondesse/comentasse dois posts - Em defesa da memória (I e II):

http://dererummundi.blogspot.com/2007/10/em-defesa-da-memria.html
http://dererummundi.blogspot.com/2007/10/em-defesa-da-memria-ii.html

josé disse...

Meu caro:
Vim de lá agora e li isto:

"Assim, o regicídio não o foi de facto. O alvo não era o rei mas sim o regime ditatorial de Franco e o elo fraco deste regime era o rei. Sem o rei, João Franco não tinha base política que o sustentasse. Não foi um regicídio: foi um ataque cirúrgico a uma ditadura e uma tentativa de limpar um sistema podre."

Acha que isto se comenta?

Fernando Martins disse...

É o revisionismo comentável...?

Se calhar uma pergunta difícil, mas eu acho que quem cala consente.

josé disse...

Comentar a drª Palmira, é uma perda de tempo. Ler não será, mas comentar, é-o com certeza.

O activismo ateísta tem uma vertente de desequilíbrio que me aflige. Falo a sério.
Ali não há lugar a dúvidas.

Fernando Martins disse...

Infelizmente começo a compreendê-lo. Mas acho que nisto das republicanices jacobinas à moda da I república a consigo calar.

É curioso é que noutras áreas a acho excelente (um pouco exagerada e desequilibrada mas interessante). O que acho mais graça nestes ateus é terem uns acólitos que parecem mais papistas que o papa....